Disseca-me

Tulio Urach

Estava pois lá eu na sala
Deitado na losa em forma de V
Foi quando adentrou ao necrotério
Uma linda menina rosto de bebê
Debruçou seus seios fartos
Sobre o corpo inerte deste locutor
Que quase retornou da morte
Reascendendo a vida com o seu calor

Senti-me vivo
Voltei amar
Senti-me vivo
Voltei amar

Então ela me abriu as tripas
E o acaso a morte se detectou
Que eu havia falecido
Com um tiro no umbigo que me fulminou
E aí num próximo momento
Que troço nojento que ela demonstrou
O cheiro lhe adentrou as narinas
E a linda menina ali me vomitou

Senti-me morto
Não mais que um morto
Que não podia amar

Senti-me morto
Não mais que um morto
Que não podia amar

Bateu uma vontade louca
De deitar o cabelo e me mandar dali
Mas já estava apodrecendo
E como é que um morto ia poder fugir?
E ela de um modo infame vomitou um salame em cima de mim
Que caiu no duodeno resvalou no pâncreas e parou no rim

Senti-me morto
Não mais que um morto
Que não podia amar

Senti-me morto
Não mais que um morto
Que não podia amar

Ali aberto e humilhado
Qual guri cagado não me controlei
O meu amor foi tão honesto
E num último gesto eu então chorei
E ela pesou entre os olhos inundando a face se martirizou
Cravou um bisturi no bucho
Furou o filamento se suicidou
Senti seu corpo
Gelar de morto
Juntinho ao meu

Senti-me vivo
Voltei amar
Senti-me vivo
Voltei amar

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