N0v05 X4mã5

Tiago Miçanga

A luz que brilha do olhar da cobra decepada pela faca afiada do osso do carneiro
E o pesado arfar do homem em cilada que vomita num banheiro,
São como uma entidade que presencia um assassinato sendo um sacrifício por vaidade.

O grito da parideira e do bebê que nasce:
O primeiro ato, a vida que desencadeia!
O messias nasce da menina que já tem força pra ser mãe solteira
E olha seu bebe nos olhos,
Vê o futuro dele em sua retina:
Que é seu filho montado num dragão,
Galopando entre as nuvens fúteis
Destruindo a cidade com a força de um tufão.

A menina descobre fatos inúteis,
Pois ela estará bem morta
E interrompem-na batendo a porta, atacando,
Lhe matarão para seqüestra a criança amada.
Ela, com a fúria de um louco leão que pelo caçador branco é dizimado.
Seu berro agonizante vem como trovão.
Acerta Gaia que cai de quatro chorando,
Pois esta doente por sentir nossa doença.
Enquanto outros estão viajando
E param pra tomar um café em Florença
Como se o mundo fosse parar,
Com a paciência de Jó e tem que aguardar,
Mas ela esta sempre a girar.

E eu pro mundo fico de guarda
Vendo luas subirem e descerem,
Vendo sóis subirem e descerem,
Até vejo o mundo preto e branco
Mas sempre parto o meu giz de cera,
Não me escondo, mas estou no meu canto
E o canto é improvável queira ou não queira.

Da fogueira das vaidades
Onde o homem disseca o homem
Ela destrói toda a cidade
E sobrevive quem tem sobrenome
Se sentem como deuses,
Tratam os outros como lixo,
Nunca perdem nem as vezes esse é o nosso nicho.
De pessoas que sofrem por ter em outros o sorrir,
De palhaços depressivos, crianças viciadas
Às vezes o mundo, não quero sentir,
Pois só aflora mais juventude transviada.

E se todos os deuses gregos espancarem um virgem
Será igual a seqüestrada que tem apego ao carrasco que a levou a para esfinge?
Não muda nada, é adorar quem te abate
Quem te usa e depois te mata,
É a síndrome da viúva negra.

Lembro quando antes morava na mata
Entre as chuvas grossas e o cheiro forte
Fazia o ritual no bifurcar do rio,
Agora a oferenda é na encruzilhada,
Se confundem as várias entidades que vagam entre os planos.

Apesar da faca ainda ser de osso
O que muda é o motivo e o engraçado é que ainda rima
Só que o sacrifício era por necessidade,
Agora sempre é por vaidade e nunca por humildade.

O bebê é mais que santo,
Mas nuca vai perceber
O mundo não vai deixar ser salvo por ele
Em vez disso vai lhe ensinar a domar o dragão
Que vai dizimar suas vidas e salgar sua comida

É a sina das nossas cidades doentes,
Tão feias, tão podres que da pena
Então as chamo de bonitas

Tracker

All lyrics are property and copyright of their owners. All lyrics provided for educational purposes only.