Orações de Campo

Tiago Machado

Canta a cigarra agarrada na forquilha
Da grama seca (que a geada queimou no agosto)...
Prece de campo no romper da noite grande
De uma coruja a me espiar mateando ao posto!

Quem é do campo sabe bem das suas penas...
(na sina bruta de lidar com a criação)
E das saudades que hibernam dentro d'alma
Que afloram quando a lua aponta no capão!

No altar da pampa a natureza reza um terço
Na madrugada clara de estrela e lua...
Serenas horas em que arreglo um mate novo
Pra uma milonga falar das minhas mágoas cruas!

Assim guapeio, sol a sol, aqui na estância,
Aquebrantando o rigor pra o meu sustento,
Pois quem tem a alma aquecida por braseiros
Agüenta firme o trompaço do mal tempo!

Mas rogo à deus pra cuidar desta querência
Num canto xucro, acolherado na guitarra,
Que a primavera traga o verde às campinas
E que não cale o contraponto das cigarras!

Talvez por isso esses cantos são "muy" tristes
E tão sonoros quando o breu estende os braços,
Cantando as dores de um inverno fronteiriço
Ou as saudades nostalgiando este regaço!

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