Moço firmava a macumba
E a moça de saia incorporou
Gente que o desce o morro
Num enredo de sonho que a Vila sonhou
Uma África menina e por isso tão gigante
Terreiro que ensina, um quilombo diamante
Pedra pra se lapidar ou pra temperar no sal
Um pedaço da Bahia onde assentou seu ritual
Foi Orfeu da pele preta, iniciado por Ciata
Nos quintais da batucada, um samba de Camará
Ê camará, ê camará
No esquivo da encruza, infante da poesia
No versado das raízes, o rancho raiava o dia
Chama o alabê-nilu
Que o tambor também é escola
Como dizem naquela história
Na curimba não cabe só um
Sobe fumaça, cachimbo está aceso
Na gira do seu terreiro
É ogã de Xangô e d'Oxum
Heitor, acordes de um samba nas cordas de aço
Malandro na estirpe a riscar mais um traço
Por onde a Penha lhe fez enroscar
Chega mano Paulo e Cartola e o que Zumbi ensinou
Deixa chegar Noel Rosa e o bonde do Pierrô
Pra cortejar a baiana e ver a quarta florir
O dia certo pro morro voltar a sorrir
Diplomacia se fez samba em Dakar
Reuniu nesse roteiro, arte de recomeçar
Quem é do Congo, de Angola e de Moçambique
Mete a mão nesse repique pra kizomba desfilar
Gira no macumbembê, firma no samborembá
Nessa África em xirê, pra canjira começar
Dos Macacos ao Morro do Pau da Bandeira
Chama a favela inteira para a vila incorporar