Chamamé de Campo

Desidério Souza

Chamamé de campo que acende o dia pelas plainuras
Que reponta o gado para o rodeio toda a manhã
Vai soprando acordes no vento norte pelas lonjuras
Agitando as copas dos paraísos e tarumãs!

Chamamé de campo que andava livre, potro indomado
Que se ouvia ao longe, cortando os campos ainda em flor
Foi perdendo espaço e é prisioneiro dos aramados
E o seu timbre antigo foi apagado pelo trator

Mas quem traz a alma chamamecera, mesmo no asfalto
Sabe ser do campo, de um jeito puro que não se trai
Mostra que a querência, dentro do homem, fala mais alto
E, quebrando o gelo, fere o silêncio num sapucay!

Chamamé de campo que acorda a lua na noite escura
Embalando o fogo para o campeiro que sente frio
Vai sorvendo a mágoa que traz a erva na ceivadura
Seu passado índio que foi embora seguindo os rios!

Quando, nas estâncias que ainda resistem, o gado berra
O campeiro sofre de nostalgia por compreender
Que o mugido soa como um lamento da própria terra
Que acalenta a pampa e que se transcende num chamamé!

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