Alçados Lá da Faxina

Desidério Souza

Mais um serviço é outra tropa que ponteio
No meus arreios a garantia de chegar
Um potro ruano de bocal e duas éguas
É na estrada que termino de ajeitar

Campiou o patrão por um tropeiro e duas luas
A tropa sua era criada e caborteira
Boiada alçada dos campos lá da faxina
Não se arrucinam e não conhecem mangueira

Marcado dia antes do Sol cruzemo o passo
Pionada buena, pelos matos e os pelados
Tinir de laço, larida da cachorrada
Fomos juntando num canto do aramado

Bota os cachorros que o gado sai na picada
Pega le o grito e vai tentiando no costado
Se refuga, já se enrosca no doze braças
Que lá no fundo é o mangueirão do descampado

Rubiando o dia, se foi à boca da noite
A lida é bruta e um pouco desigual
Com duas talhas chegamos lá na fazenda
Botas riscadas de espinhos do chircal

Gado encerrado bater cascos e guampas
Vi no patrão um semblante satisfeito
Pingos suados, um mate lá no galpão
E a desencilha na cerca do parapeito

Noite de Lua, enquanto apronta o assado
Faz um costado pra uns versos que vou dizer
Por mais ariscos, alçados e caborteiros
No meus arreios, não existe bem querer

De madrugada voltiando a cavalhada
Dei um vistaço para o lado da mangueira
Não avistei nenhuma aspa dos brasinos
Que pra juntar consome um dia inteiro

Pensei comigo sem alardear os companheiros
É mais um dia pra juntar essa boiada
Que noite antes não respeitou a porteira
E se extraviou campo a fora na invernada

E foi assim que essa lida eu relato
É mais um fato na memória dos campeiros
Foram dois dias de corredor ao embarque
Mais uma tropa lá no rincão do barreiro

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